Em 1º de abril de 1964, as forças que se opunham ao aprofundamento da democracia social e econômica em curso no Brasil consumaram sua cartada mais radical, a tomada do poder pelas armas. Um mês depois, o jornalista Millôr Fernandes  lançava a revista PifPaf e indagava, na capa de um dos primeiros exemplares: “Mas afinal, o que é a liberdade?”

A pergunta pairou no ar nos vinte anos que se seguiram. Na busca por respostas, milhares de jornalistas, intelectuais e ativistas políticos acabaram por fazer da palavra impressa uma das armas mais poderosas de combate à ditadura militar, à desigualdade social, à opressão, ao discurso moralista que mascarava a hipocrisia e o autoritarismo dos que assaltaram o Estado em nome da velha ordem.

Entre 1964 e 1979, o ano em que as forças democráticas conquistaram a anistia, centenas de publicações produzidas à margem dos aparatos institucionais de comunicação deram voz à resistência política e cultural no Brasil. Disputaram palmo a palmo o campo simbólico em que os donos do poder tentavam legitimar a dominação pela força. Enfrentaram a truculência da censura e da perseguição policial. E conseguiram se impor graças à capacidade de inovar não apenas a agenda temática, mas a própria linguagem e os códigos formais com que se expressava o debate público no país.

A história dos jornais alternativos, clandestinos  e produzidos no exílio nesse período está sendo reconstruída pelos pesquisadores e jornalistas do Instituto Vladimir Herzog, no projeto “Resistir é preciso”. Aqui neste site, ela é contada pelos próprios protagonistas, em dezenas de depoimentos registrados em vídeo. E é ilustrada pelas capas das edições mais significativas de cada uma dessas publicações, acompanhadas por textos que resumem suas trajetórias.

Reunimos aqui também uma coleção de cartazes produzidos por artistas gráficos que colaboraram intensamente com a imprensa da resistência. Resgatamos ainda exemplos precursores de jornalismo combativo, como os pasquins do século 19, os jornais libertários do início do século 20, as publicações de partidos e organizações que influenciaram pela esquerda o processo político no período anterior ao golpe militar.

O que tudo isso tem em comum? A inscrição no DNA de uma convicção expressa por Millôr Fernandes, com quem abrimos e fechamos esta apresentação: “jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados”.

ALTERNATIVA

Nas bancas de todo o país, cerca de 150 jornais como O Pasquim, Opinião, Movimento, Ex, Repórter e Versus ousaram desafiar a ditadura.

CLANDESTINA

Perseguidas com extrema violência, as organizações clandestinas de esquerda recorreram ao jornalismo de combate para mobilizar e resistir.

NO EXÍLIO

A imprensa de denúncia e debate sobre a resistência, produzida no Exterior por líderes políticos e ativistas impedidos de voltar.

CARTAZES

São dezenas de cartazes feitos no exterior contra a ditadura brasileira.

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Cartaz